Houve um tempo em que eu não
desejava morrer,
mas vê-la, por três vezes,
atentar contra seu brilho
ascendeu em mim um sol fúnebre:
penso, todos os dias, em métodos
de perecimento.
Em casa, ao acordar com as unhas enterradas
nas palmas das mãos,
imagino todo fluído corporal vertendo,
lentamente
embebedando colchas brancas e
travesseiros feitos de material
da NASA
– eu sempre quis ir à Lua.
Aos passos rastejantes em direção
ao banho, arquiteto um deslize esplêndido.
Perda de memória, um corte profundo.
Perda de memória, um corte profundo.
De súbito. Quem sabe?
O que não quero, jamais, é morrer
dormindo.
Isso impediria o final dos meus
sonhos.
Saio de casa com a direção certeira,
imponho-me frente ao ônibus, que,
por sorte, estará em velocidade
máxima, desfilando seus 76 passageiros.
Fecho os olhos e aguardo:
Aberta eu despejaria toda dor
colecionada.
Confesso que houve um tempo em
que eu não desejava morrer,
mas vê-la, por três dias,
escurecer sua vida
fez nascer em mim uma Lua minguante:
então eu conto, todos os dias, a
hora de te encontrar.