segunda-feira, 11 de março de 2013

Tom



Nesta folha pálida escorregam
os meus sentimentos
pelos dedos finos de suave tez.

Vida desordenada tem este papel adornado:
Ora esbanja prudência, ora insensatez.
Nunca está neutro, em suas entranhas
carrega toda cor que me colore.

Aqui, nesta descorada lâmina, encontrarás
versos esguios:
– adequar-se-ão aos desejos dos olhos teus.

Letras azuis marcharão aos olhos céticos:
Parolar-lhes-ão céus e mares – retina adentro, até que haja luz.
Toda e qualquer palavra amarelada
fará teus olhos amadurecerem.

E não haverá, em lugar algum, olhos sem alma,
que não avistarão meus escritos cantados,
coloridos de vento.



(Para Duerer, com alguns anos de atraso.)

3 comentários:

  1. Num primeiro momento, ao escrever, você tira dessa folha a palidez pintando-a com tinta azul. Tira o vazio de seu reflexo branco e acrescenta-lhe uma única cor.

    Num segundo momento, ao ler, essa lamina tingida por suas palavras tira de mim tudo que é opaco e me preenche com centenas de cores. Tira o meu cinza e acrescenta-me mil cores.

    Essas mil cores entram pelos meus olhos, atravessam meu hipocampo, tingem todo o meu cérebro, correm pelo meu sistema nervoso e explodem nas pontas dos meus dedos exatamente no segundo em que tocam aquelas teclas.

    E cada nota representa uma cor. Cada cor, uma palavra contida naquele papel adornado, e cada palavra carrega em si a responsabilidade de suscitar ira, compaixão, ódio, amor, saudade, felicidade...

    Assim, de olhos abertos recebe-se essa sucessão dos mais variados sentimentos pelo que se lê. E de olhos fechados os recebe pelo que se ouve. No fim, não havendo como fugir, resta apenas se deixar levar; entregar-se; render-se àquela folha de papel.

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