sábado, 22 de dezembro de 2012

Hoje



Hoje não escreverei sobre você.

Quero falar da sua falta:
que me atinge bordoadas certeiras
e me faz sangrar solidão.

A companheira das noites silenciosas,
já substituída tantas vezes pela fé,
esperança, força, vontade,
hoje está ausente: não há companhia.
Não há sua presença em voz rouca e longínqua.

Hoje não escreverei sobre você.

Vou falar dos meus passos largos
de fuga, de esconderijo.
E não vou falar da rua que nos acompanha,
com olhos esfomeados, saboreando nosso amor.

Vou falar dos incômodos. Vou falar do desespero.
Vou sentir.

Não me incomode com sua falta de estar.
Incomoda-me com sua mão que me procura a cada passo dado
e me prende, e me prende.

Não quero ser iluminada pelos seus olhos
que me umedecem as roupas, a pele e a alma.
Hoje quero ser enxergada:
Não quero escrever sobre você.
Preciso te viver.

3 comentários:

  1. Agonia. Agonia.
    Conheço esse sentimento. Nem tempo e nem espaço são tão relativos a ponto de nos acalmar. Simplesmente poderiam não existir mais. Quem sabe a "distância" não sumisse com eles e, assim, viesse a "presença" nos presentear com o tão aguardado afago.

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    Esse é muito inspirador, Ana. Adorei!

    Acho incrível o quando você evolui a cada poesia. Quando eu acho que vi a sua grande obra prima, aí vem uma nova demonstração do quanto você pode surpreender. Por isso vou ler você pra sempre!

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