sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Demônio estimado

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Se corrompeu por sua criação e, por enquanto, não quer se desfazer daquilo que cultiva.

E qual o problema nisso?

Ele cultiva seu estrago. Possui um demônio de estimação. Tal como o viciado em cocaína e noutras nocividades, continuará alimentando essa cria destrutiva para consumir até a última sensação de prazer que ela pode lhe fornecer. Mas, não percebe que está sendo consumido na mesma proporção.

Às vezes se sente assustado, porque as raízes entram seu corpo e o dominam. Usam sua voz e se tornam mandatárias de todo norte que havia.

E então ele percebe que é difícil lutar contra aquilo que não se vê. Mesmo quando se acredita cegamente no invisível.

Mas essas raízes já são árvores. E elas sugam todas as suas forças e esperança de não seguir em frente por já não aguentar. Então ele continua sua destruição: cego e sem alento. E seus frutos são podres.


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Um comentário:

  1. Um verdadeiro tratado sobre a dependência, venha ela da fonte que seja. Muito bom.

    A acepção de "norte" no texto , embora nao inédita, é perfeitamente encaixada e a mais bela que conheço para o verbete. Nada ficaria melhor ali.

    Excelente!

    Devia haver mais gente como você por aí.

    :)

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